"LÁPIDE 1: epitáfio para o corpo - Aqui jaz um grande poeta. Nada deixou escrito. Este silêncio, acredito, são suas obras completas. " - Paulo Leminski |
Literatura de Bordel
Isto não é um blog! É apenas um pedaço de nada dedicado a minha loucura. Por isso, fique a vontade e CUIDADO para não pisar nos periquitos.
Quem sou eu
- Nome: Felippe Motta
- Local: Lisboa, Lisboa, Portugal
Publicitário, 35 anos, carioca radicado em Lisboa. Este sou eu, pelo menos por enquanto.
domingo, outubro 31, 2004
quinta-feira, outubro 28, 2004
Coração Partido ao Molho de Lágrimas
1 coração humano adolescente
1 porção de amor não correspondido
1 pitada de orgulho
1 CD do Tim Maia
Lágrimas
Modo de Preparo:
Deixe o coração humano cozinhar em banho Maria por um tempo, até chegar o ponto. Assim que isso acontecer – não se preocupe você saberá quando o chegar o ponto – acrescente 1 porção de amor não correspondido e espere o coração partir. Coloque o CD do Tim Maia, deixe tocando e acrescente uma pitada de orgulho. Excelente! Agora é só esperar as lágrimas para temperar o seu coração partido a vontade.
1 porção de amor não correspondido
1 pitada de orgulho
1 CD do Tim Maia
Lágrimas
Modo de Preparo:
Deixe o coração humano cozinhar em banho Maria por um tempo, até chegar o ponto. Assim que isso acontecer – não se preocupe você saberá quando o chegar o ponto – acrescente 1 porção de amor não correspondido e espere o coração partir. Coloque o CD do Tim Maia, deixe tocando e acrescente uma pitada de orgulho. Excelente! Agora é só esperar as lágrimas para temperar o seu coração partido a vontade.
Salada de Depressão e Beterrabas ao Molho de Pimenta
3 porções de trabalho
1 porção de chefes
1 porção de contas
½ porção de salário
2 porções de regras
1 porção de hipocrisia social
2 beterrabas
Molho de pimenta
Nuvens cinzas de Curitiba
Modo de Preparo:
Comece dividindo o seu dia em 4 porções. Transforme 3 porções do seu dia em porções de trabalho e acrescente a isso 1 porção de chefes, 2 porções de regras, 1 porção de hipocrisia social e 2 beterrabas. Pique tudo em cubos, misture com a mão e deixe na geladeira por 1 mês. Após esse período, tempere com 1 porção de contas, ½ de salário e acrescente molho de pimenta e nuvens cinzas de Curitiba à gosto.
1 porção de chefes
1 porção de contas
½ porção de salário
2 porções de regras
1 porção de hipocrisia social
2 beterrabas
Molho de pimenta
Nuvens cinzas de Curitiba
Modo de Preparo:
Comece dividindo o seu dia em 4 porções. Transforme 3 porções do seu dia em porções de trabalho e acrescente a isso 1 porção de chefes, 2 porções de regras, 1 porção de hipocrisia social e 2 beterrabas. Pique tudo em cubos, misture com a mão e deixe na geladeira por 1 mês. Após esse período, tempere com 1 porção de contas, ½ de salário e acrescente molho de pimenta e nuvens cinzas de Curitiba à gosto.
Nata da Felicidade ao Molho de Cerejas
1 xícara de cafezinho de raios de sol do alvorecer
1 pitada de inocência
2 ovos
2 colheres de sobremesa de cabelo de Glock
1 colher de sopa
6 cerejas bem vermelhas
Riso
Modo de Preparo:
Fure os 2 ovos com um arame em uma de suas pontas, deixe escorrer os seus conteúdos ralo abaixo e separe as cascas. Em um refratário misture 1 xícara de cafezinho de raios de sol do alvorecer com uma pitada de inocência. Misture bem até chegar ao ponto de clara de sol. Deixe descansar por 15 minutos, 3 segundos e 22 centésimos. Enquanto isso, pegue a colher de sopa e comece a tentar equilibrá-la no nariz, se estiver afim, você pode ir comendo as cerejas, uma por uma, ou todas de uma vez. O importante neste momento é deixar que o suco das frutas escorra por entre os seus lábios. Agora é só acrescentar o cabelo de Glock, jogar as cascas de ovos em alguém que estiver próximo e acrescentar riso à gosto.
1 pitada de inocência
2 ovos
2 colheres de sobremesa de cabelo de Glock
1 colher de sopa
6 cerejas bem vermelhas
Riso
Modo de Preparo:
Fure os 2 ovos com um arame em uma de suas pontas, deixe escorrer os seus conteúdos ralo abaixo e separe as cascas. Em um refratário misture 1 xícara de cafezinho de raios de sol do alvorecer com uma pitada de inocência. Misture bem até chegar ao ponto de clara de sol. Deixe descansar por 15 minutos, 3 segundos e 22 centésimos. Enquanto isso, pegue a colher de sopa e comece a tentar equilibrá-la no nariz, se estiver afim, você pode ir comendo as cerejas, uma por uma, ou todas de uma vez. O importante neste momento é deixar que o suco das frutas escorra por entre os seus lábios. Agora é só acrescentar o cabelo de Glock, jogar as cascas de ovos em alguém que estiver próximo e acrescentar riso à gosto.
terça-feira, outubro 26, 2004
Adeus minha loira
Lembro como se fosse hoje a primeira vez que nos encontramos. Não sabia direito o que fazer e meus pensamentos eram confusos. Um misto de desejo e medo. Assim que encostei em você senti a palma de minha mão ficar gelada e suar. Dizem que isso é normal, pois até hoje tenho a mesma sensação quando nos encontramos.
Você foi sempre uma boa companheira. Na alegria e na tristeza estávamos juntos. Quando fui expulso de casa, quando meu patrão me demitiu, quando briguei com meu melhor amigo, quando ninguém sequer perdia tempo comigo, quando roubei a primeira vez, quando matei aquele cara, você esteve sempre ali, ao meu lado. Calada, me preenchendo, me ajudando. O seu jeito de me consolar sempre fazia os meus problemas desaparecerem.
Não que você já não tenha me dado alguma dor de cabeça, muito pelo contrário, já me deu muita. Mas, como em qualquer relacionamento, superamos isso juntos. Somos o que muitas pessoas chamam de uma união que deu certo.
Nos conhecemos há tanto tempo que nunca achei que fosse falar isso pra você: está tudo acabado entre nós minha loira. Esse é o fim do nosso relacionamento. A culpada não é você, sou eu. Eu mudei. Cansei de você, da gente, dessa união tão perfeita. Resolvi acreditar nos meus amigos, eles dizem que você está me matando. Sei que vai ser difícil pra você continuar a existir sem a minha companhia noite adentro. Mas tenha certeza de que está sendo muito mais difícil pra mim.
Por isso, hoje, estamos aqui nessa mesa. Nesse bar onde tudo começou há 26 anos atrás. Pra relembrar o que passamos e termos a mais que merecida despedida. Só eu e você, cerveja.
Você foi sempre uma boa companheira. Na alegria e na tristeza estávamos juntos. Quando fui expulso de casa, quando meu patrão me demitiu, quando briguei com meu melhor amigo, quando ninguém sequer perdia tempo comigo, quando roubei a primeira vez, quando matei aquele cara, você esteve sempre ali, ao meu lado. Calada, me preenchendo, me ajudando. O seu jeito de me consolar sempre fazia os meus problemas desaparecerem.
Não que você já não tenha me dado alguma dor de cabeça, muito pelo contrário, já me deu muita. Mas, como em qualquer relacionamento, superamos isso juntos. Somos o que muitas pessoas chamam de uma união que deu certo.
Nos conhecemos há tanto tempo que nunca achei que fosse falar isso pra você: está tudo acabado entre nós minha loira. Esse é o fim do nosso relacionamento. A culpada não é você, sou eu. Eu mudei. Cansei de você, da gente, dessa união tão perfeita. Resolvi acreditar nos meus amigos, eles dizem que você está me matando. Sei que vai ser difícil pra você continuar a existir sem a minha companhia noite adentro. Mas tenha certeza de que está sendo muito mais difícil pra mim.
Por isso, hoje, estamos aqui nessa mesa. Nesse bar onde tudo começou há 26 anos atrás. Pra relembrar o que passamos e termos a mais que merecida despedida. Só eu e você, cerveja.
domingo, outubro 24, 2004
O desenhista de almas
Ele a encontrou em um bar no Centro da cidade. Era noite, não muito tarde, e ela estava tomando seu chopp quando foi abordada.
- Vem cá, você já foi desenhada por alguém?
- Não eu... eu nunca pra falar a verdade.
- Gostaria de te desenhar algum dia.
- Desenhe agora então, posso ver que você está com lápis e papel.
- É tem razão, estou com o material, mas não estou preparado.
- Mas você é ou não é um bom desenhista?
- Claro que sou!
- Então desenhe.
- Tudo bem.
- O que eu faço?
- Erga a cabeça, sorria e mantenha-se parada.
Ele pegou seu papel e seu lápis e com toda a calma do mundo começou seu trabalho. Com muito cuidado passava o lápis por sobre aquele papel branco e macio. Era como se ele não quisesse ferir o papel. De vez em quando usava a borracha, mas bem devagar para não deixar marcas. Estava cuidando de cada detalhe. Invariavelmente, fazia pose de quem estava tentando se lembrar de alguma coisa, parava, pensava, pensava e voltava sua concentração novamente ao ofício.
Após meia hora, ele entregou seu desenho. Ela analisou detalhadamente cada parte. Parou, secou uma lágrima teimosa que não parava de querer cair de seu olho avermelhado puxando para o castanho. No papel que pegou leu o seguinte:
“ Seu sorriso. Uma caixa de música em Madri Pérola, pronta para tocar os ouvidos de poucos privilegiados que ousem navegar pela imensidão vermelha de sua saborosa língua...
Olhos, olhos, olhos. Pequenas janelas abertas para sua alma delicada. Olhos que emitem uma luz castanha, que dão, ao mais desesperado dos mortais esperança de que dias felizes que estão por vir, assim que o cinza se for. For, seja. Seja cabelos bem enrolados, como um carretel de linha d’ouro, onde corre uma canção de amor.
Sua simples presença faz a vida brilhar. Seus gestos fazem a vida ter um sentido. Sua presença ilumina o mais sombrio dos lugares.”
Esse é o desenho mais lindo que alguém já fez de mim. – disse ela.
- Vem cá, você já foi desenhada por alguém?
- Não eu... eu nunca pra falar a verdade.
- Gostaria de te desenhar algum dia.
- Desenhe agora então, posso ver que você está com lápis e papel.
- É tem razão, estou com o material, mas não estou preparado.
- Mas você é ou não é um bom desenhista?
- Claro que sou!
- Então desenhe.
- Tudo bem.
- O que eu faço?
- Erga a cabeça, sorria e mantenha-se parada.
Ele pegou seu papel e seu lápis e com toda a calma do mundo começou seu trabalho. Com muito cuidado passava o lápis por sobre aquele papel branco e macio. Era como se ele não quisesse ferir o papel. De vez em quando usava a borracha, mas bem devagar para não deixar marcas. Estava cuidando de cada detalhe. Invariavelmente, fazia pose de quem estava tentando se lembrar de alguma coisa, parava, pensava, pensava e voltava sua concentração novamente ao ofício.
Após meia hora, ele entregou seu desenho. Ela analisou detalhadamente cada parte. Parou, secou uma lágrima teimosa que não parava de querer cair de seu olho avermelhado puxando para o castanho. No papel que pegou leu o seguinte:
“ Seu sorriso. Uma caixa de música em Madri Pérola, pronta para tocar os ouvidos de poucos privilegiados que ousem navegar pela imensidão vermelha de sua saborosa língua...
Olhos, olhos, olhos. Pequenas janelas abertas para sua alma delicada. Olhos que emitem uma luz castanha, que dão, ao mais desesperado dos mortais esperança de que dias felizes que estão por vir, assim que o cinza se for. For, seja. Seja cabelos bem enrolados, como um carretel de linha d’ouro, onde corre uma canção de amor.
Sua simples presença faz a vida brilhar. Seus gestos fazem a vida ter um sentido. Sua presença ilumina o mais sombrio dos lugares.”
Esse é o desenho mais lindo que alguém já fez de mim. – disse ela.
sexta-feira, outubro 22, 2004
quinta-feira, outubro 21, 2004
Amor Passageiro
Seus seios apareciam parcialmente revelados no decote de sua roupa. Lindos, médios, alvos, duros como pêras proibidas dos jardins suspensos. Diretamente acima dele seu colo, limpo, sem jóias, porém mais valioso que qualquer adereço criado pelo homem. Ligando, por uma estrada de finas veias de sangue azul, seus seios ao seu rosto. Perfeito, com traços delicados e salientes olhos castanhos, em que perdi cerca de trinta minutos analisando calmamente cada traço tímido da expressão da inocência, até chegar a seus cabelos. Macios, longos, no cumprimento da cintura, castanhos puxados para o loiro e lisos. Não consegui enxergar nenhum traço de imperfeição. Estava extasiado.
Após a análise, pensei na possibilidade de ficarmos juntos, de casarmos e quem sabe até termos filhos. Naquele momento parecia algo perfeitamente aceitável. Ela bocejou, eu também. Tive a certeza então de que havíamos sido feitos um para o outro. Viveríamos felizes para sempre.
E suas preferências? Seria necessário conhecer mais a respeito dela. Tinha que saber sua cor preferida, sua flor preferida, sua posição preferida. Tinha que me lembrar exatamente há quanto tempo estávamos juntos, qual era nossa música preferida e qual o momento em que tive a certeza de que ela era a mulher da minha vida.
Mas isso construiríamos com o tempo. Agora era a hora de falar tudo isso para ela. Antes que...
Ela virou as costas e foi embora. Não pude deixar de notar suas nádegas, entumecidas, passarem pela minha frente. Segui-a, como um cão que corre atrás de uma cadela no cio.
Explicando o inexplicável.
O caso é o seguinte: a menina em questão tem cerca de treze anos de idade e eu, bom, eu tenho quarenta e seis. Por isso, deixo que você decida o final desse conto.
Passando a bola para um dos três finais.
Final 1 – Corri em sua direção, pedi que esperasse. Após me ignorar por alguns metros de caminhada, perguntou sobre o que se tratava. Expliquei que estava apaixonado por ela, que ela era a mulher da minha vida e que sabia que a diferença de idade impedia nosso relacionamento. Ela abriu um sorriso tímido, gostou. Disse que tinha apenas treze anos e que seu nome era Helena. Pedi seu telefone e disse que ligaria quando ela completasse a maioridade, daqui a cinco anos.
Final 2 – Caminhei em sua direção. Peguei-a pelo braço e a joguei contra a parede da viela. Estava escuro e assim que ela bateu com a cabeça, desmaiou. Abri sua calça, rasguei sua roupa e, com um misto de excitação e medo, enfiei minha pica na sua xoxotinha virgem. Gozei dentro.
Final 3 – Segui ela por algumas quadras. Não sabia direito o que estava fazendo, nem por que estava fazendo. Sei que no meio do caminho me lembrei da minha esposa, dos meus filhos, que por sinal eram mais velhos que ela, e de toda a vida que estava prestes a desperdiçar. Parei e voltei para casa.
Após a análise, pensei na possibilidade de ficarmos juntos, de casarmos e quem sabe até termos filhos. Naquele momento parecia algo perfeitamente aceitável. Ela bocejou, eu também. Tive a certeza então de que havíamos sido feitos um para o outro. Viveríamos felizes para sempre.
E suas preferências? Seria necessário conhecer mais a respeito dela. Tinha que saber sua cor preferida, sua flor preferida, sua posição preferida. Tinha que me lembrar exatamente há quanto tempo estávamos juntos, qual era nossa música preferida e qual o momento em que tive a certeza de que ela era a mulher da minha vida.
Mas isso construiríamos com o tempo. Agora era a hora de falar tudo isso para ela. Antes que...
Ela virou as costas e foi embora. Não pude deixar de notar suas nádegas, entumecidas, passarem pela minha frente. Segui-a, como um cão que corre atrás de uma cadela no cio.
Explicando o inexplicável.
O caso é o seguinte: a menina em questão tem cerca de treze anos de idade e eu, bom, eu tenho quarenta e seis. Por isso, deixo que você decida o final desse conto.
Passando a bola para um dos três finais.
Final 1 – Corri em sua direção, pedi que esperasse. Após me ignorar por alguns metros de caminhada, perguntou sobre o que se tratava. Expliquei que estava apaixonado por ela, que ela era a mulher da minha vida e que sabia que a diferença de idade impedia nosso relacionamento. Ela abriu um sorriso tímido, gostou. Disse que tinha apenas treze anos e que seu nome era Helena. Pedi seu telefone e disse que ligaria quando ela completasse a maioridade, daqui a cinco anos.
Final 2 – Caminhei em sua direção. Peguei-a pelo braço e a joguei contra a parede da viela. Estava escuro e assim que ela bateu com a cabeça, desmaiou. Abri sua calça, rasguei sua roupa e, com um misto de excitação e medo, enfiei minha pica na sua xoxotinha virgem. Gozei dentro.
Final 3 – Segui ela por algumas quadras. Não sabia direito o que estava fazendo, nem por que estava fazendo. Sei que no meio do caminho me lembrei da minha esposa, dos meus filhos, que por sinal eram mais velhos que ela, e de toda a vida que estava prestes a desperdiçar. Parei e voltei para casa.
segunda-feira, outubro 18, 2004
sexta-feira, outubro 08, 2004
A História de Roberto
Roberto era o que as pessoas costumam chamar de erro genético. A começar por seus pais, um traficante negro carioca e uma turista chinesa hippie. Nasceu na China, em um pequeno vilarejo, de nome quase impronunciável, a 456 quilômetros de Pequim. Lá ficou, como um estranho no ninho, 17 anos. Até resolver morar no Rio de Janeiro para procurar seu pai.
Claro que Roberto não encontrou seu pai e claro que conheceu o amor da sua vida. Ele se apaixonou por uma putinha da Atlântica e ela por ele. Viveram um romance que não devia nada a qualquer daqueles filmes mela cuecas americano, um pouco mais hardcore talvez. Roberto começou a fazer bicos como aviãozinho, doleiro de puta e só quando a coisa apertava fazia “uns ganho na gringalhada”. Viveram a plenitude do amor e acabaram caindo nessa maravilhosa rotina.
Mas, por um infortúnio do destino, sua mulher, o amor de sua vida (o amor por sua vida), foi assassinada. Seu corpo foi encontrado totalmente queimado de cigarro e com a garganta cortada, disseram que foi um de seus clientes que fez aquilo. Roberto, bom, não agüentou e perdeu seu rumo na vida, se entregando totalmente as drogas. Começou a dar o cu e a fazer uns boquetes para ganhar um dinheiro. Perdeu completamente a razão de viver. De vez em quando, mas só quando estava muito triste, pagava um travesti qualquer e arrebentava-lhe as pregas. Ele não conseguia se sentir mais atraído por mulheres.
Até o dia, em que completamente trincado de cocaína, enquanto dava pela primeira vez o rabo para um travesti, perdeu de vez o pouco que lhe restava de sua sanidade. Virou e acertou uma cotovelada, dada com toda a sua força, no maxilar do traveco. Ele desmaiou. Roberto foi até sua cozinha, pegou uma faca bem afiada e sem titubear cortou lentamente a goela dele. Depois, acendeu um cigarro e começou, com toda a tranqüilidade do mundo, a queimar o corpo inanimado do travesti.
Quando deu por si, desesperou-se. Chorou descontroladamente durante alguns minutos. Pegou uma caixinha de jóias, a única lembrança de sua amada e uma luva negra de renda, a única lembrança de sua mãe e começou a caminhar noite adentro. Até chegar lá em cima da Pedra da Gávea, ainda antes do sol nascer.
Ficou lá, pensando em tudo isso que foi narrado aqui, desde a época em que vivia na China até o ato que cometera minutos atrás. Ele estava a uma boa distância da beira do abismo, tinha medo de altura, e ficava contemplando o horizonte. Quando, os primeiros raios de sol sugiram, ele teve certeza: não merecia mais viver.
Caminhou passo a passo rumo à beira do precipício. Estava quase chegando a sua morte, quando um gato, com a barriga branca de dorso preto, pulou entre ele e o precipício. O gato olhou firmemente em direção a Roberto e ele para o gato. Foi um momento estranho, mas mágico. O gato soltou um miado e Roberto o colocou debaixo do braço. Deixando para trás, a caixinha, a luva e sua vontade de se matar.
Claro que Roberto não encontrou seu pai e claro que conheceu o amor da sua vida. Ele se apaixonou por uma putinha da Atlântica e ela por ele. Viveram um romance que não devia nada a qualquer daqueles filmes mela cuecas americano, um pouco mais hardcore talvez. Roberto começou a fazer bicos como aviãozinho, doleiro de puta e só quando a coisa apertava fazia “uns ganho na gringalhada”. Viveram a plenitude do amor e acabaram caindo nessa maravilhosa rotina.
Mas, por um infortúnio do destino, sua mulher, o amor de sua vida (o amor por sua vida), foi assassinada. Seu corpo foi encontrado totalmente queimado de cigarro e com a garganta cortada, disseram que foi um de seus clientes que fez aquilo. Roberto, bom, não agüentou e perdeu seu rumo na vida, se entregando totalmente as drogas. Começou a dar o cu e a fazer uns boquetes para ganhar um dinheiro. Perdeu completamente a razão de viver. De vez em quando, mas só quando estava muito triste, pagava um travesti qualquer e arrebentava-lhe as pregas. Ele não conseguia se sentir mais atraído por mulheres.
Até o dia, em que completamente trincado de cocaína, enquanto dava pela primeira vez o rabo para um travesti, perdeu de vez o pouco que lhe restava de sua sanidade. Virou e acertou uma cotovelada, dada com toda a sua força, no maxilar do traveco. Ele desmaiou. Roberto foi até sua cozinha, pegou uma faca bem afiada e sem titubear cortou lentamente a goela dele. Depois, acendeu um cigarro e começou, com toda a tranqüilidade do mundo, a queimar o corpo inanimado do travesti.
Quando deu por si, desesperou-se. Chorou descontroladamente durante alguns minutos. Pegou uma caixinha de jóias, a única lembrança de sua amada e uma luva negra de renda, a única lembrança de sua mãe e começou a caminhar noite adentro. Até chegar lá em cima da Pedra da Gávea, ainda antes do sol nascer.
Ficou lá, pensando em tudo isso que foi narrado aqui, desde a época em que vivia na China até o ato que cometera minutos atrás. Ele estava a uma boa distância da beira do abismo, tinha medo de altura, e ficava contemplando o horizonte. Quando, os primeiros raios de sol sugiram, ele teve certeza: não merecia mais viver.
Caminhou passo a passo rumo à beira do precipício. Estava quase chegando a sua morte, quando um gato, com a barriga branca de dorso preto, pulou entre ele e o precipício. O gato olhou firmemente em direção a Roberto e ele para o gato. Foi um momento estranho, mas mágico. O gato soltou um miado e Roberto o colocou debaixo do braço. Deixando para trás, a caixinha, a luva e sua vontade de se matar.
A Ausência da Musa
- Ei você!
- Pois não.
- Olha essa criança.
- O que tem?
- Olha pra ela e me diz o que você acha?
- Ah, eu achei bem bonita.
- Então, você pode dar um nome pra ela.
- Como?
- É, vai, dá um nome pra ela.
- Ah, não sei não, mas acho que ela tá com cara de Mariana.
- Mas eu odeio esse nome! Mariana!? Não tem como escolher outro?
- Mas eu gosto de Mariana...
- Eu não.
- Sei lá então, põe Roberta.
- Roberta? Roberta? Parece piada.
- Então não sei, decide você, o filho é seu... Que mulher mais louca.
Mariana, vira as costas e vai embora sem conseguir dar o nome de sua mãe, Roberta, a criança. E Roberta fica ali, parada, sem saber qual nome dar ao filho da amante de seu marido, Mariana.
- Pois não.
- Olha essa criança.
- O que tem?
- Olha pra ela e me diz o que você acha?
- Ah, eu achei bem bonita.
- Então, você pode dar um nome pra ela.
- Como?
- É, vai, dá um nome pra ela.
- Ah, não sei não, mas acho que ela tá com cara de Mariana.
- Mas eu odeio esse nome! Mariana!? Não tem como escolher outro?
- Mas eu gosto de Mariana...
- Eu não.
- Sei lá então, põe Roberta.
- Roberta? Roberta? Parece piada.
- Então não sei, decide você, o filho é seu... Que mulher mais louca.
Mariana, vira as costas e vai embora sem conseguir dar o nome de sua mãe, Roberta, a criança. E Roberta fica ali, parada, sem saber qual nome dar ao filho da amante de seu marido, Mariana.
terça-feira, outubro 05, 2004
Filamentos Humanísticos
A eternidade não me dá trabalho, o problema é que cansa. Não no sentido físico, mesmo porque não tenho um corpo físico para cansar. O que cansa são as repetições, a infinita quantidade de repetições que são propagadas infinitamente universo a fora. Esse lance da onipresença nunca me foi verdadeiramente útil. Afinal, de que adianta estar em todos os lugares ao mesmo tempo, se tudo que acontece é exatamente igual. Mas um dia, um dia Eu, graças à minha onisciência, pude presenciar o momento mais sublime de toda humanidade, em pleno século XXI, quando já havia perdido totalmente as esperanças em relação a mesma.
Aconteceu em um bar, em Curitiba, numa noite qualquer de uma terça-feira qualquer. João estava lá, encostado na parede, com uma latinha de cerveja na mão, quando sem dizer sequer uma palavra, me proporcionou um momento único, que fez valer ter criado a Terra e, mais, ter colocado vida nela.
Finalmente um ser humano conseguiu enxergar o verdadeiro motivo de estar vivo. Sem essa história de dom, de religião, de leis e esses pormenores criados por eles para eles. Um ser humano conseguiu enxergar o amor que sublima, que está em cada gesto, a cada segundo. Ali, parado, João observou um casal que se encontrava, viu naquele momento o amor transbordar em cada atitude, no abraço, nos seus lábios, nas suas palavras – mesmo sem escutá-las – em suma, em cada detalhe ele via claramente o amor. Encarou com naturalidade e começou a observar cada pessoa do bar, em cada uma via o amor. O amor entre amigos, o amor entre pessoas que se viam a primeira vez, o amor nos gestos e até no segurança conseguiu enxergar, olhando em seus olhos, o transbordar do amor. Sabe aquela música, Love is in the air, Eu adoro essa música. João conseguiu perceber o que já havia sido dito pelo meu filho em seus sermões e o que a própria música já havia perpetuado. Ele conseguiu enxergar o amor no ar, o amor que liga as pessoas, o que está na sua frente e dentro de cada um, animal, vegetal ou mineral. A Terra, bem como todo o universo, é uma grande corrente de amor.
João percebeu que Eu era o amor. Que estava dentro dele, assim como ele estava dentro de mim. Da mesma forma como todas as pessoas estão conectadas, através de mim. Eu sou amor que move o universo. Bom, pela primeira vez estava emocionado. Esqueci minha onisciência e onipresença por alguns segundos e fiquei ali, na mente de João. Podia vislumbrar um futuro glorioso para a humanidade a partir daquele momento. Nem Gandhi havia conseguido enxergar com tanta clareza aquilo que João estava vivendo.
Foi quando um empurrão fez João acordar do momento mais sublime de toda a humanidade. Ao bater com a cabeça na parede, retomou seus sentidos a tempo de ouvir a realidade. Oh seu babaca, o que é que tá olhando pra minha mulher! Não tem nada pra fazer não? Vê se acha uma pra você e pára de olhar pra mulher dos outros, se não quiser entrar na porrada!
Um ódio insano apagou seus pensamentos. O sujeito era bem maior que ele. O que não impediu João, sem dizer uma palavra e com a fisionomia tomada pela ira, de acertar-lhe uma joelhada no escroto. Seguida por uma cotovelada na face e dezenas de chutes e murros no corpo já inerte à sua frente. Continuou seu pequeno massacre até ser segurado pelo segurança, que não conseguiu evitar o traumatismo craniano e dois dias depois a morte do rapaz.
Livre arbítrio, talvez esse tenha sido o meu maior erro na humanidade.
Aconteceu em um bar, em Curitiba, numa noite qualquer de uma terça-feira qualquer. João estava lá, encostado na parede, com uma latinha de cerveja na mão, quando sem dizer sequer uma palavra, me proporcionou um momento único, que fez valer ter criado a Terra e, mais, ter colocado vida nela.
Finalmente um ser humano conseguiu enxergar o verdadeiro motivo de estar vivo. Sem essa história de dom, de religião, de leis e esses pormenores criados por eles para eles. Um ser humano conseguiu enxergar o amor que sublima, que está em cada gesto, a cada segundo. Ali, parado, João observou um casal que se encontrava, viu naquele momento o amor transbordar em cada atitude, no abraço, nos seus lábios, nas suas palavras – mesmo sem escutá-las – em suma, em cada detalhe ele via claramente o amor. Encarou com naturalidade e começou a observar cada pessoa do bar, em cada uma via o amor. O amor entre amigos, o amor entre pessoas que se viam a primeira vez, o amor nos gestos e até no segurança conseguiu enxergar, olhando em seus olhos, o transbordar do amor. Sabe aquela música, Love is in the air, Eu adoro essa música. João conseguiu perceber o que já havia sido dito pelo meu filho em seus sermões e o que a própria música já havia perpetuado. Ele conseguiu enxergar o amor no ar, o amor que liga as pessoas, o que está na sua frente e dentro de cada um, animal, vegetal ou mineral. A Terra, bem como todo o universo, é uma grande corrente de amor.
João percebeu que Eu era o amor. Que estava dentro dele, assim como ele estava dentro de mim. Da mesma forma como todas as pessoas estão conectadas, através de mim. Eu sou amor que move o universo. Bom, pela primeira vez estava emocionado. Esqueci minha onisciência e onipresença por alguns segundos e fiquei ali, na mente de João. Podia vislumbrar um futuro glorioso para a humanidade a partir daquele momento. Nem Gandhi havia conseguido enxergar com tanta clareza aquilo que João estava vivendo.
Foi quando um empurrão fez João acordar do momento mais sublime de toda a humanidade. Ao bater com a cabeça na parede, retomou seus sentidos a tempo de ouvir a realidade. Oh seu babaca, o que é que tá olhando pra minha mulher! Não tem nada pra fazer não? Vê se acha uma pra você e pára de olhar pra mulher dos outros, se não quiser entrar na porrada!
Um ódio insano apagou seus pensamentos. O sujeito era bem maior que ele. O que não impediu João, sem dizer uma palavra e com a fisionomia tomada pela ira, de acertar-lhe uma joelhada no escroto. Seguida por uma cotovelada na face e dezenas de chutes e murros no corpo já inerte à sua frente. Continuou seu pequeno massacre até ser segurado pelo segurança, que não conseguiu evitar o traumatismo craniano e dois dias depois a morte do rapaz.
Livre arbítrio, talvez esse tenha sido o meu maior erro na humanidade.
sábado, outubro 02, 2004
Roda Viva
Já era tarde da noite quando aquela velha me abordou na Rua XV. Estava frio, era inverno e eu estava completamente embriagado.
- Hei, menino!
- Não tenho dinheiro.
- Não é isso o que eu quero.
- E o que é então?
- Segura meu pau.
- O quê?
- Meu pau, esse bastão aqui, segura.
- Pra que serve essa merda?
- Bate com ele na minha cabeça. Agora! Com toda a sua força.
- Como assim?
- Vamos, bate logo.
- Você quer que...
- É, vai, bate com esse bastão na minha cabeça.
- Eu não vou fazer isso porra nenhuma. Cê ta louca?!
- Bate, vamos.
- Eu não. Toma de volta esse bastão.
- Vamos menino, bate com esse pau na minha cabeça. Você vai gostar, vai gostar de ouvir o barulho da minha cabeça partindo.
- Cê tá mesmo louca não é velha. Que foi, fugiu do hospício?
- Vamos. Seja homem uma vez na vida e bata na minha cabeça.
- Já falei que não vou bater e pronto. Toma de volta esse pedaço de pau.
- Eu não vou pegar.
- Tudo bem, eu deixo aqui mesmo. Tchau e ben... hei, que porra é essa?
- Uma agulha infectada com Aids, agora é uma questão de vida ou morte.
- Como? Não, não, estou te entendendo.
- Funciona assim seu menino burro. Você tem cinco segundos pra pegar essa merda de bastão e acertar a minha cabeça, senão quem morre é você. Cinco, quatro, três, dois.
Meia hora depois eu ainda estava ali na Rua XV. Até que um bêbado de uns quarenta e poucos anos passou por ali.
- Hei, cara!
- Tô sem grana hoje.
- Não é isso que eu quero.
- Hei, menino!
- Não tenho dinheiro.
- Não é isso o que eu quero.
- E o que é então?
- Segura meu pau.
- O quê?
- Meu pau, esse bastão aqui, segura.
- Pra que serve essa merda?
- Bate com ele na minha cabeça. Agora! Com toda a sua força.
- Como assim?
- Vamos, bate logo.
- Você quer que...
- É, vai, bate com esse bastão na minha cabeça.
- Eu não vou fazer isso porra nenhuma. Cê ta louca?!
- Bate, vamos.
- Eu não. Toma de volta esse bastão.
- Vamos menino, bate com esse pau na minha cabeça. Você vai gostar, vai gostar de ouvir o barulho da minha cabeça partindo.
- Cê tá mesmo louca não é velha. Que foi, fugiu do hospício?
- Vamos. Seja homem uma vez na vida e bata na minha cabeça.
- Já falei que não vou bater e pronto. Toma de volta esse pedaço de pau.
- Eu não vou pegar.
- Tudo bem, eu deixo aqui mesmo. Tchau e ben... hei, que porra é essa?
- Uma agulha infectada com Aids, agora é uma questão de vida ou morte.
- Como? Não, não, estou te entendendo.
- Funciona assim seu menino burro. Você tem cinco segundos pra pegar essa merda de bastão e acertar a minha cabeça, senão quem morre é você. Cinco, quatro, três, dois.
Meia hora depois eu ainda estava ali na Rua XV. Até que um bêbado de uns quarenta e poucos anos passou por ali.
- Hei, cara!
- Tô sem grana hoje.
- Não é isso que eu quero.