Literatura de Bordel

Isto não é um blog! É apenas um pedaço de nada dedicado a minha loucura. Por isso, fique a vontade e CUIDADO para não pisar nos periquitos.

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Local: Lisboa, Lisboa, Portugal

Publicitário, 35 anos, carioca radicado em Lisboa. Este sou eu, pelo menos por enquanto.

terça-feira, agosto 30, 2005

Parcimônias - R$ 1,99.

Quem disse que eu sou insensível? Isso é uma tremenda de uma mentira, sou sensível pra caralho! E, se você ficar repetindo esse assunto, vou te encher de porrada. Não quero nem saber se o corpo da sua vó chega hoje ou não. E vê se engole esse choro, senão além de arrebentar a sua boca, estoro toda a sua família no velório, sua vagabunda. Jamais repita que não sou um cara sensível.

Olha que gracinha os meus cachorrinhos brincando.

De repente o tênis.

Não posso usar esse tênis, escorrega. Não posso escorregar, quebra. Não posso quebrar, trabalho. Não posso trabalhar, estresse. Não posso estressar, engordo. Não posso engordar, deforma Não posso deformar, amo. Não posso deixar de amar, depressão. Não posso deprimir, isolado. Não posso me isolar, relação. Não posso deixar de me relacionar, diversão. Não posso deixar de me divertir, vida. Não posso deixar de viver, morte. Definitivamente tenho que achar outro tênis.

Parcimônias - 2.775,42

Existe uma linha muito tênue que separa a genialidade da loucura, eu apaguei essa linha.

Parcimônias (0,57).

O melhor de ser esquizofrênico é poder ter a certeza de que, por pior que esteja a situação, eu nunca estou sozinho.

Mais um momento qualquer em uma vida qualquer.

Era mais um momento comum, em um dia comum de uma vida comum. Uma respeitosa senhora de 62 anos, viúva há 21 anos, solitária e triste, descia a escada rolante estática, com um olhar perdido e, as pesadas sacolas de plástico, carregadas com as super-ofertas do supermercado, rompiam levemente sua resistência e traziam-lhe a cada dedo que não resistia um rompante de realidade.

Aquele encontro não estava programado. Mas, quando seus olhos se cruzaram, não houve dúvidas: haviam sido feitos um para o outro. Ela caminhava em sua direção e ele permanecia parado. Quando percebeu que ela estava indo ao seu encontro, levantou-se, deu três passos para frente e abanou sua pequena bunda branca descontroladamente.

Apesar de nunca ter entrado em um lugar daqueles e achar completamente inadequado um lugar que vende alimentos vender animais de estimação, entrou na pequena loja e comprou seu companheiro.

Ele era lindo, branquinho, pequeno, com pouco mais de três anos e com todas as vacinas em dia, aquela criança era o sonho de consumo de muitas famílias. Mas, poucos se atreveriam a comprar crianças já com tal idade. Fora os custos: todos sabem que sustentar uma criança não é fácil, ainda mais nos dias de hoje.

Mas, para nossa decente viúva, isso não seria problema: o Brigadeiro havia deixado uma boa poupança e alguns confeitos que se desgrudaram sem que o mesmo houvesse percebido, antes de ser devorado por uma psicopata esquizofrênica que tinha mania de assassinar Brigadeiros a mordidas em suas crises tepeêmicas. Bom, mas isso não vem ao caso, o fato é que a nossa respeitosa senhora tinha uma bela poupança e, exatamente por isso, comprar e criar aquela criança não seria um problema.

Agasalhou e embalou pra viagem a sua criança recém-comprada. Chegando em casa, abriu o pacote, lavou bem a criança, passou perfume e talquinho, colocou um lacinho rosa na cabeça e deu para os cachorros: que brinquem com seu novo animalzinho de estimação.