Literatura de Bordel

Isto não é um blog! É apenas um pedaço de nada dedicado a minha loucura. Por isso, fique a vontade e CUIDADO para não pisar nos periquitos.

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Local: Lisboa, Lisboa, Portugal

Publicitário, 35 anos, carioca radicado em Lisboa. Este sou eu, pelo menos por enquanto.

terça-feira, outubro 05, 2004

Filamentos Humanísticos

A eternidade não me dá trabalho, o problema é que cansa. Não no sentido físico, mesmo porque não tenho um corpo físico para cansar. O que cansa são as repetições, a infinita quantidade de repetições que são propagadas infinitamente universo a fora. Esse lance da onipresença nunca me foi verdadeiramente útil. Afinal, de que adianta estar em todos os lugares ao mesmo tempo, se tudo que acontece é exatamente igual. Mas um dia, um dia Eu, graças à minha onisciência, pude presenciar o momento mais sublime de toda humanidade, em pleno século XXI, quando já havia perdido totalmente as esperanças em relação a mesma.

Aconteceu em um bar, em Curitiba, numa noite qualquer de uma terça-feira qualquer. João estava lá, encostado na parede, com uma latinha de cerveja na mão, quando sem dizer sequer uma palavra, me proporcionou um momento único, que fez valer ter criado a Terra e, mais, ter colocado vida nela.

Finalmente um ser humano conseguiu enxergar o verdadeiro motivo de estar vivo. Sem essa história de dom, de religião, de leis e esses pormenores criados por eles para eles. Um ser humano conseguiu enxergar o amor que sublima, que está em cada gesto, a cada segundo. Ali, parado, João observou um casal que se encontrava, viu naquele momento o amor transbordar em cada atitude, no abraço, nos seus lábios, nas suas palavras – mesmo sem escutá-las – em suma, em cada detalhe ele via claramente o amor. Encarou com naturalidade e começou a observar cada pessoa do bar, em cada uma via o amor. O amor entre amigos, o amor entre pessoas que se viam a primeira vez, o amor nos gestos e até no segurança conseguiu enxergar, olhando em seus olhos, o transbordar do amor. Sabe aquela música, Love is in the air, Eu adoro essa música. João conseguiu perceber o que já havia sido dito pelo meu filho em seus sermões e o que a própria música já havia perpetuado. Ele conseguiu enxergar o amor no ar, o amor que liga as pessoas, o que está na sua frente e dentro de cada um, animal, vegetal ou mineral. A Terra, bem como todo o universo, é uma grande corrente de amor.

João percebeu que Eu era o amor. Que estava dentro dele, assim como ele estava dentro de mim. Da mesma forma como todas as pessoas estão conectadas, através de mim. Eu sou amor que move o universo. Bom, pela primeira vez estava emocionado. Esqueci minha onisciência e onipresença por alguns segundos e fiquei ali, na mente de João. Podia vislumbrar um futuro glorioso para a humanidade a partir daquele momento. Nem Gandhi havia conseguido enxergar com tanta clareza aquilo que João estava vivendo.

Foi quando um empurrão fez João acordar do momento mais sublime de toda a humanidade. Ao bater com a cabeça na parede, retomou seus sentidos a tempo de ouvir a realidade. Oh seu babaca, o que é que tá olhando pra minha mulher! Não tem nada pra fazer não? Vê se acha uma pra você e pára de olhar pra mulher dos outros, se não quiser entrar na porrada!

Um ódio insano apagou seus pensamentos. O sujeito era bem maior que ele. O que não impediu João, sem dizer uma palavra e com a fisionomia tomada pela ira, de acertar-lhe uma joelhada no escroto. Seguida por uma cotovelada na face e dezenas de chutes e murros no corpo já inerte à sua frente. Continuou seu pequeno massacre até ser segurado pelo segurança, que não conseguiu evitar o traumatismo craniano e dois dias depois a morte do rapaz.

Livre arbítrio, talvez esse tenha sido o meu maior erro na humanidade.

7 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Muito bom! Bom de mais!

Você começa a ler estranha: "Meu! Ele que escreveu isso!? Não pode ser. Tá "bonito" de mais!!!"

Mas de repente! PÁ!

Ah sim. Esse é o Felippe que conheço!

2:15 PM  
Blogger Felippe Motta said...

É isso aí Norman. Esse é apenas o começo.

Felippe.

2:49 PM  
Anonymous Anônimo said...

Esse é o carioca que eu não conheço. Do caralho, hein? Ass: Diego

9:46 PM  
Anonymous Anônimo said...

Muito bom, mas esse esqueminha de registro para postar está um saco.

Ewandro

9:35 PM  
Anonymous Anônimo said...

É, arruma essa merda, carioca.

Diego

9:57 PM  
Anonymous Anônimo said...

O mundo está ficando exagerado demais. Antigamente os loucos achavam que eram apenas napoleão...

12:40 AM  
Blogger Felippe Motta said...

Olha pessoal, me desculpem o transtorno do post, mas sou ignorante demais nesse negócio de blog... assim que alguma alma caridosa resolver me ajudar, bom, então teremos um blog moderno, dinâmico e alucinante no visual, enquanto isso, vcs sofreram... e eu tb ao saber que minha mãe ainda chora lágrimas de sangue toda vez que se lembra de mim.

11:15 AM  

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