Estrela
Hipocondríaco assumido, imaginou de tudo. Talvez fosse de origem neurológica, causada por algum comprometimento nos nervos ou talvez fosse vascular, provavelmente um déficit na irrigação sangüínea. Depois imaginou que pudesse ser efeito colateral do Ritonavir, remédio usado no tratamento da AIDS. Então lembrou que não tinha a doença e que sabia desse efeito colateral apenas por um depoimento que havia lido na Internet de um soropositivo em estágio terminal. Talvez estivesse hiperventilando. Esse, definitivamente, era um sintoma de hiperventilação corpórea. Não podia ser, ele estava sentado ali há horas, quando muito movendo o dedo para clicar o mouse. Imaginou o pior: Lúpus – doença inflamatória de causa desconhecida – que entre muitos efeitos causa dor na ponta dos dedos e em casos mais avançados até pontos de gangrena na região irrigada pelos vasos comprometidos. Mas o que ele sentia não era bem uma dor, era mais um formigamento na ponta dos seus dedos do que qualquer outra coisa.
Ele ficou ali, abrindo e fechando a mão direita durante cerca de quinze minutos e nada. O formigamento não passava. Conversou com seu colega da baia ao lado a respeito do problema que lhe afligia mas não obteve muita atenção. Pediu para sair mais cedo e foi direto para uma farmácia. Após um breve exame do farmacêutico, foi instruído de que, aparentemente, não havia nada, e que se o formigamento não passasse até o dia seguinte, que procurasse o médico. Ele não gostou do parecer. E se fosse lúpus? Até o dia seguinte era tempo o suficiente para desenvolver uma gangrena. Ligou para um médico, não tinha horário. Ligou para outro, só dali a uma semana. Tentou mais um e nada. O único médico que podia atende-lo o quanto antes só estaria disponível no dia seguinte.
Chegou em casa preocupado, abriu seu pequeno armário de medicamentos – era daquele tipo que imitava os antigos armarinhos médicos da década de 20 – e procurou algo que pudesse tomar, só por precaução. Tomou dois antiinflamatórios e preparou uma bacia com gelo para mergulhar a mão. Deitou em sua cama e, sob o efeito dos remédios, não demorou muito para cair em um sono profundo.
Acordou cerca de seis horas depois, com a nítida sensação de que sua mão estava tentando lhe puxar. Desmaiou. Acordou novamente duas horas e meia depois. Olhou para sua mão e soltou um grito surdo, seco e desesperador. Em cada dedo de sua mão haviam nascido ratos brancos, desses de laboratório, que se mexiam de forma desconexa, como se tivessem convulsões e tentassem se livrar daquela mão que teimava em prendê-los. Volta e meia eles se mordiam, mas ele não sentia dor. Não sentia mais nada, não eram mais seus dedos, eram ratos vivos presos à sua mão.
Correu na cozinha e amarrou um saco plástico de mercado em volta de sua mão, para evitar ficar vendo aquela cena surreal. Pegou o telefone na sala e ligou para os médicos com quem havia falado ontem. Contou a história umas dez vezes, e em todas foi ignorado ainda pelas secretárias. Resolveu ligar para sua ex-namorada e contou a história. Ouviu um sonoro Você está doente! Você precisa de ajuda. E pronto, o telefone ficou mudo. Ele achou engraçado, apesar de estar desesperado com aquela situação achou muito engraçado a resposta dela. O tempo em que permaneceram juntos ele vivia dizendo isso para ela e, inclusive, essa havia sido a gota d’água para o fim do relacionamento.
Sem saber para quem recorrer e com seu coração tomado pelo medo absoluto, chegou à única solução cabível naquela situação. Foi até a cozinha, pegou um cutelo bem afiado, desenrolou o saco plástico de sua mão e fitou calmamente, como quem tenta achar coragem em um poço sem fundo de desespero, os ratos em sua mão direita. Após alguns segundos, pegou o cutelo e decepou, bem na base, seu dedão. O rato saiu correndo, subiu pela cortina branca deixando um rastro de sangue e sumiu pela janela. Não sentiu dor nenhuma, mesmo o sangue não parando de jorrar não sentiu dor, estava era aliviado. Repetiu o ato mais quatro vezes, e os ratos foram correndo, cada um para o seu canto. Uns foram para o ralo da cozinha, outro saiu por debaixo da porta da sala e um outro resolveu seguir o caminho do primeiro, deixando seu rastro de sangue pela cortina até sumir pela janela. O sangue jorrava de seus cinco cotocos de dedos. Não demorou muito para que ele desmaiasse.
A pedido de sua ex-namorada, a trupe do manicômio não demorou a chegar, mas não a tempo de deixarem de presenciar o verdadeiro massacre que havia ocorrido naquele recinto. Bateram uma vez e nada. A segunda vez e nenhuma resposta. Na terceira tentativa arrombaram a porta e viram ele estirado ali no chão, com um cutelo na mão e envolto em uma poça de sangue que se formava a partir de sua mão direita, que por sinal não tinha nenhum dedo. Os enfermeiros pegaram a maca e o levaram direto para a internação. Desde então, sempre que não está sedado escuta a mesma pergunta: Onde você guardou seus dedos? Ao que ele prontamente responde: Não eram dedos, eram ratos.
Ele ficou ali, abrindo e fechando a mão direita durante cerca de quinze minutos e nada. O formigamento não passava. Conversou com seu colega da baia ao lado a respeito do problema que lhe afligia mas não obteve muita atenção. Pediu para sair mais cedo e foi direto para uma farmácia. Após um breve exame do farmacêutico, foi instruído de que, aparentemente, não havia nada, e que se o formigamento não passasse até o dia seguinte, que procurasse o médico. Ele não gostou do parecer. E se fosse lúpus? Até o dia seguinte era tempo o suficiente para desenvolver uma gangrena. Ligou para um médico, não tinha horário. Ligou para outro, só dali a uma semana. Tentou mais um e nada. O único médico que podia atende-lo o quanto antes só estaria disponível no dia seguinte.
Chegou em casa preocupado, abriu seu pequeno armário de medicamentos – era daquele tipo que imitava os antigos armarinhos médicos da década de 20 – e procurou algo que pudesse tomar, só por precaução. Tomou dois antiinflamatórios e preparou uma bacia com gelo para mergulhar a mão. Deitou em sua cama e, sob o efeito dos remédios, não demorou muito para cair em um sono profundo.
Acordou cerca de seis horas depois, com a nítida sensação de que sua mão estava tentando lhe puxar. Desmaiou. Acordou novamente duas horas e meia depois. Olhou para sua mão e soltou um grito surdo, seco e desesperador. Em cada dedo de sua mão haviam nascido ratos brancos, desses de laboratório, que se mexiam de forma desconexa, como se tivessem convulsões e tentassem se livrar daquela mão que teimava em prendê-los. Volta e meia eles se mordiam, mas ele não sentia dor. Não sentia mais nada, não eram mais seus dedos, eram ratos vivos presos à sua mão.
Correu na cozinha e amarrou um saco plástico de mercado em volta de sua mão, para evitar ficar vendo aquela cena surreal. Pegou o telefone na sala e ligou para os médicos com quem havia falado ontem. Contou a história umas dez vezes, e em todas foi ignorado ainda pelas secretárias. Resolveu ligar para sua ex-namorada e contou a história. Ouviu um sonoro Você está doente! Você precisa de ajuda. E pronto, o telefone ficou mudo. Ele achou engraçado, apesar de estar desesperado com aquela situação achou muito engraçado a resposta dela. O tempo em que permaneceram juntos ele vivia dizendo isso para ela e, inclusive, essa havia sido a gota d’água para o fim do relacionamento.
Sem saber para quem recorrer e com seu coração tomado pelo medo absoluto, chegou à única solução cabível naquela situação. Foi até a cozinha, pegou um cutelo bem afiado, desenrolou o saco plástico de sua mão e fitou calmamente, como quem tenta achar coragem em um poço sem fundo de desespero, os ratos em sua mão direita. Após alguns segundos, pegou o cutelo e decepou, bem na base, seu dedão. O rato saiu correndo, subiu pela cortina branca deixando um rastro de sangue e sumiu pela janela. Não sentiu dor nenhuma, mesmo o sangue não parando de jorrar não sentiu dor, estava era aliviado. Repetiu o ato mais quatro vezes, e os ratos foram correndo, cada um para o seu canto. Uns foram para o ralo da cozinha, outro saiu por debaixo da porta da sala e um outro resolveu seguir o caminho do primeiro, deixando seu rastro de sangue pela cortina até sumir pela janela. O sangue jorrava de seus cinco cotocos de dedos. Não demorou muito para que ele desmaiasse.
A pedido de sua ex-namorada, a trupe do manicômio não demorou a chegar, mas não a tempo de deixarem de presenciar o verdadeiro massacre que havia ocorrido naquele recinto. Bateram uma vez e nada. A segunda vez e nenhuma resposta. Na terceira tentativa arrombaram a porta e viram ele estirado ali no chão, com um cutelo na mão e envolto em uma poça de sangue que se formava a partir de sua mão direita, que por sinal não tinha nenhum dedo. Os enfermeiros pegaram a maca e o levaram direto para a internação. Desde então, sempre que não está sedado escuta a mesma pergunta: Onde você guardou seus dedos? Ao que ele prontamente responde: Não eram dedos, eram ratos.
3 Comments:
Template de bolinhas? Que gay.
Ass: Diego
existem aqueles que vc mostra um diamante em estado bruto e os mesmos dizem: é só uma pedra. e existem aqueles que vc mostra um diamante em estado bruto e os mesmos respondem: nossa um diamante. não sei pq falei isso exatamente, tudo que sei é que nesse canto não importa o gráfico e sim o que está escrito. um forte abraço...
Bolinhas é foda.... hehehehhe... tem msn?
Ewandro
Postar um comentário
<< Home